Emigrar, uma palavra que nunca gostei muito de ouvir e que
nunca pensei que nos dias de hoje iria fazer parte do meu quotidiano, sim,
porque hoje em dia sou considerada emigrante.
Acho que muita gente, tem duas versões do que é sair do
nosso país (Portugal), uma delas é que
ou a pessoa que vai emigrar vai ser rica e ficar cheia de dinheiro, onde vai
ter uma casa toda xpto e ainda ter tudo do bom e do melhor, ou então existe a
segunda opção de ideal criado na mente das pessoas leigas nessa matéria, que é
que vamos ser uns coitadinhos, que vamos sofrer imenso, não vamos ter nada e
blá blá blá.
Pois bem, das duas opções acho que nenhuma me assustou desde
que tomei a decisão de vir morar para o Reino Unido, sabia que iria ser uma
enorme mudança a todos os níveis, mas sempre pensei
que eu iria dar a volta por cima em todas as
situações.
Para vos ser sincera uma das
coisas que mais me assustava era ir morar com o meu namorado, não sabia se iria
ser uma boa dona de casa, sempre fui habituada a que me fizessem de tudo,
apesar de nos últimos dois anos ser eu quem fazia quase tudo lá em casa. Mas
como tudo o que é mudança assusta, acho que o morar com a pessoa que amamos mas
que sabemos que estamos a dar um grande passo na nossa vida, sabemos também que
é isso que queremos mas muitas das vezes vem as duvidas que nos atormentam, que
nos fazem duvidar até do nosso próprio ser.
Basicamente tanto eu como o Tiago deixamos Portugal com o
intuito de termos uma vida melhor, essencialmente de poder-mos viver juntos, sabíamos
também que em Portugal não íamos conseguir, eu já À dois anos que tinha
terminado e curso de Design de Moda e depois de tantos currículos enviados para
varias empresas da área nunca nenhuma me chamou, obviamente que a frustração
bateu à porta.
Surgiu então a oportunidade de tanto eu como o Tiago
mudarmos de vida, o que muitas das vezes falávamos era de como as pessoas se
estavam a tornar no nosso país, como tudo à nossa volta não parecia ter saída,
nem oportunidades, ele já trabalhava na mesma empresa à 7 anos e sem nenhuma perspetiva
de aumento de salário, também ele descontente com as condições de trabalho a
que se sujeitava todos os dias para ganhar pouco mais que o salário mínimo.
Quantas vezes pensamos na volta que podíamos dar à nossa vida para vivermos
juntos e conseguirmos pagar uma renda, outras despesas que uma casa assim exige
e ainda pudermos ter algum para nós. Tudo isso parecia só ter uma palavra,
emigrar, ir tentar uma vida a dois lá fora, mesmo que custasse deixar para trás
todas as nossas raízes, todos os nossos vínculos, nós queríamos tentar, nós queríamos
ser capazes de conseguir.
Assim embarcamos, no dia 17 de Janeiro de 2015, nunca mais
me vou esquecer desse dia chuvoso e cinzento, com o voo marcado para as 18horas
da tarde tinha que estar pelo menos 3horas antes do voo no aeroporto, nesse dia
lembro-me de ter acordado com uma paz enorme no meu coração, uma coisa que
jamais tinha sentido, tratei dos últimos preparativos e bati a porta do meu
quarto e disse "até já, eu volto em breve"
Saí assim com o coração cheio, dizendo sempre para mim que
não ia chorar quando a minha mãe e a minha avó se abraçassem a mim no
aeroporto, que não ia fazer isso porque elas iam ficar mal, a espera pela hora
de seguir para as partidas pareceu ter passado a correr mas por outro lado a
ansia de apanhar o voo já se estava a apoderar de mim, mas claro que quando a
hora das despedidas chegou, foi uma choradeira, foi um enorme misto de sentimentos,
pensamentos, mas o que atormentava mais a minha cabeça era que eu não queria
fazer aquilo, que eu nunca queria estar a fazer o que estava a fazer mas que me
estavam a obrigar, o país estava me a obrigar, da maneira que as coisas estavam
eu nunca ia conseguir ter a minha vida, a minha casa, as minhas coisas e a
minha independência, saí então da beira delas com o coração destroçado, mas
sempre com a ideia que um dia ia ser alguém e que elas se iam orgulhar muito de
mim.
Depressa cheguei ao aeroporto de Londres e cheia de vontade
de sair dele para sentir o ar que se respirava, para também ligar para minha mãe a dizer que estava tudo bem, que
tudo tinha corrido bem e que naquele momento íamos apanhar uma camioneta que
nos ia levar para a cidade onde íamos ficar a morar, acho que nunca tive tanta
vontade, nunca me tinha sentido tão entusiasmada em pegar nas minhas malas e
andar por aqueles corredores fora e seguir todos os caminhos que nos levavam às
camionetas, sabia que ainda tinha muito caminho para percorrer naquela noite
que duas camionetas me esperavam, a primeira deixou-nos onde tínhamos que
apanhar a outra, mas quando estávamos aí
as coisas começaram realmente a bater, os meus sentimentos já não eram
os mesmos, a minha vontade de voltar para casa começava a ser maior do que ir
na direção que a segunda camioneta me levava, mal entrei na segunda camioneta
lavei-me em lágrimas, o choro sufocava-me e a vontade de voltar para o colo da
minha mãe era tão grande mas tão grande, que toda a minha esperança se estava a
desmoronar, agarrei-me ao meu Tiago que também ele não conseguiu conter as lágrimas e as emoções e também ele começou a chorar como eu, os dois estávamos
assim não sabendo muito onde, a sentirmo-nos vazios, cheios de saudades de casa
e apenas tinham passado umas horas.
Soubemos desde esse momento que iria ser difícil, mas que
nos teríamos sempre um ao outro, também sabíamos que os amigos que tínhamos no
país cuja vontade seria de começar a chamar a nossa segunda casa, também esses
deveriam ter passado pelo mesmo e que nos iriam confortar.
E passado 4 meses, bem, posso dizer que isto não é nada
fácil que a vida aqui é bem diferente, que continuo a ser a mesma Diana apesar
de muitas dificuldades que já passei aqui, que agora o meu Inglês está melhor,
quando cá cheguei só sabia dizer "yes" e "no", que já
consigo desenrascar me sozinha, aqui consegui arranjar trabalho mal cheguei, o
que é mais difícil mesmo é ter uma casa, porque se estamos a trabalhar à pouco
tempo mesmo que tenhamos muito dinheiro não nos dão assim casa, sem eles terem
qualquer tipo de referencias, posso dizer também que só sabe o que é quem
passou pelo mesmo, pois não há explicação, não há horas ao telefone que consigam
colmatar as saudades que continuamos a sentir dos que nos são mais queridos e
que estão bem longe de nós, não há forma de explicar o que sentimos quando
queremos partilhar todas as pequeninas vitorias com aqueles que amamos e que
apenas podem saber pelo telefone.
Muitas das vezes dou por mim a pensar como era antigamente,
eu nunca iria sobreviver no tempo em que não havia internet, em que não havia
skype, em que não existiam aplicações para o telemóvel que nos permitem ficar
um pouquinho mais próximos dos que amamos, hoje em dia dou ainda mais valor,
aos que ficaram no meu País, dou ainda mais valor a toda a educação e raízes
que me deram para que eu fosse o que sou hoje. E um dia só quero saber fazer o
mesmo e que também eles tenham orgulho de mim.
É difícil? É
Vale a pena? Ainda não sei, passaram-se poucos meses mas
muitas coisas aconteceram, aqui parece que tudo gira muito rápido, e aí sinto
uma diferença brutal para Portugal, aí sentia-me parada no tempo, estagnada,
aqui todos os dias são uma aprendizagem a todos os níveis.
**kiss**kiss**
Diana Costa